quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Rebirth

Relatos
30 dias e vivi uma década.
Neste mês, vivi mais que em outros tempos...
Muita coisa mudou. 
Muita coisa mudei. 
Dentre as experiências, 

Rebirth.

E sou grata.
 Hoje, contemplando os prédios da avenida,
pude sorrir, vendo as outras pessoas. 
Eu escolhi estar aqui.  
Eu decidi estar aqui. 
Uma ponta de vaidade surgiu em mim, 
por estar onde quero e pelo sucesso. 
 No começo do mês eu me apaixonei duas vezes.
Uma pelo outro, outra por mim.
 Já havia me sentido assim, é claro.
Mais de uma vez, até.
Mas é sempre, é sempre diferente e melhor agora.
E quero me sentir assim de novo e mais vezes.
E quero me sentir assim sempre. 
Quero ter vontade de rir na rua a ponto de ter que disfarçar o riso solto quando alguém caminhar na minha direção... 
quero me sentir leve, flutuando em algodão,
ao dar minhas passadas de encontro ao amado..
quero me sentir linda, feromonizada, pupilas dilatadas... 
quero que todo o meu corpo fale em voz alta, 
porque minha boca, 
minha boca apenas vai murmurar no ouvido dele... 
e o tempo irá parar de novo. 
Ao me apaixonar pelo outro, 
eu me apaixonei por mim mesma de novo. 
E foi bom! 
Fazia tempo que não me sentia assim, muito tempo.
Eu me senti forte. 
Eu me senti leve. 
Eu me senti livre. 
Eu me senti linda. 
Eu me senti melhor. 
Eu me senti mulher. 
É bom saber disso.
É bom crer nisso. 
É bom acordar bem. 
De bem.

Mas  –  e tinha de haver um mas? – e se durar pouco... se durar nada perto da minha sede... se durar um intervalo de tempo entre a dúvida, a certeza, a dúvida de novo e a certeza de novo?
Vou restar forte, quedar-me de pé, mas querendo ser fluida, querendo ser lágrima, querendo ser gozo, querendo perdurar essa sensação.

birth  -  rebirth   -  a vida que tive  -  a vida que tenho  -  a vida que quero 

 a vida  


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Amores

Eu já tive um amor para quem eu escrevia:
Comprar o pão,  pagar as contas...
E esse amor parou de ler os meus  bilhetes
E isso destruiu aquele amor

Eu já tive um amor para quem eu me dedicava:
Fazia o pão, sanava as contas
E esse amor parou de de mim se ocupar
E isso destruiu aquele amor

Eu já tive um amor para quem eu me cuidava:
Evitei o pão, não pensei nas contas
Mas esse amor parou de me notar
E isso destruiu o meu amor

Eu já tive um amor para quem eu pouco me lixava:
Pão? Contas? Nem era amor!

Eu já tive um amor com quem eu sonhava:
Ah! E o que eu mais queria era falar bobagens naquele ouvido!
Queria sentar no seu colo e falar bem de mansinho
Tudo, tudo, tudo, tudo o que eu iria fazer
Queria falar de mim e do meu desejo sem fim
E não vou contar mais nada
pra deixar todo mundo curioso!



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Minha prima é escritora

Não de verdade. Não sempre. Mas por um período pequeno de sua vida, minha prima exerceu o ofício de escritora. Narradora epistolar, mais precisamente.

Várias décadas atrás (eu nem tinha cinco anos) meus pais e eu nos mudamos para uma cidade do interior. Durante doze meses seguidos, semana após semana, minha prima nos escreveu cartas. 

Recentemente, minha mãe, ao "destralhar" deparou-se com envelopes esparsos, daqueles, verde-amarelos, cujo remetente ainda constava a antiga Rua Jardim Tropical... ainda rua de terra, na qual o carteiro nem ia. 

Escrever naquela época dava um trabalhão danado... as pessoas tinham de ir até os Correios, levar e buscar suas cartas e encomendas. Pois bem, em vez de "destralhar" aquilo tudo, minha mãe juntou uma a uma essas cartas e colocou-as em ordem. Surpresa: o relato familiar de um ano inteirinho.

Na ocasião, a família toda não passava de umas 15 ou 20 pessoas... imigrantes que somos, justapostos uns aos outros, sempre moramos juntos, vizinhos. E o fato de três de nós se afastarem significou alguma coisa. Bem, pelo menos gosto de pensar assim. Os motivos dessa mudança? Nunca soube. Mas isso já é tecido para outra história... e nem importa mais.

O caso é que minha prima escreveu. Sua narrativa é clara, límpida, objetiva e direta. Sem nenhuma nem qualquer intenção, esses textos, ora datilografados ora na sua letrinha miúda de adolescente dos anos 70, relatam fatos tão corriqueiros quanto importantes.... para mim...

Minha prima escritora contava as coisas que tinham ficado: como tinha sido seu dia na escola, o que iria comer no almoço, quem havia ficado doente, por quantas horas o telefone havia ficado mudo, qual era a novela da época, qual parente distante havia se mudado, qual a cor do casaco novo, e mesmo expressões que até hoje ela usa, assim tipo:"paciência!", enfim, tudo o que lhe viesse à mente e mais tudo quanto meus avós, tios e primos lhe pedissem para contar. Fatos corriqueiros, dotados, porém, de uma importância visceral. 

Minha avó devia ser muito ocupada, pois sempre mandava lembranças e dizia que não tinha tempo. Meu avô era incumbido de levar as cartas e ficava pressionando para que ela acabasse de escrever logo... punha seu fusca branco a funcionar e lá ia o BB7012... fazendo fumaça, levando histórias. 

Quando eu me deparei com esse pequeno tesouro íntimo, ficou na minha cabeça uma névoa. Eu, que sempre me senti "tantas vezes reles, tantas vezes vil", assim como o Pessoa; eu, "que tenho sido uma fraude em tudo", também assim como o Pessoa, eu, que me queria escritora desde sempre e não o fui... por que esperar mais? Quais propósitos eu espero? Quanto mais de mim eu vou ter que ler em vez de escrever? Por isso - e uns outros tantos fatos também - resolvi continuar. Resolvi assumir agora essa escrita, afinal, venho de uma família de escritores...



sábado, 17 de setembro de 2016

Todo dia

Eu vou correndo de braços abertos
Só pra te abraçar
Minha boca só te quer
Só te quer beijar
No meu caminho eu penso em você
Eu vou correndo
Olhando o mar
Eu saio correndo  à noite
Pra te encontrar

A noite é  escura agora
Agora que eu não tenho a certeza de te encontrar

Mesmo assim saio correndo à noite
E minha boca só te quer falar
Que em meus sonhos
Você vem
Você vem me amar

Minha boca só te quer
Só te quer beijar

Meu corpo só te quer
Só te quer amar

Meu peito

Neste momento,  ligo a função  retro do aspirador.
Pelo mesmo furo fino de punção, por onde entrou tanta mágoa, acumulada durante anos, sai, agora,  por uma cânula grossa, toda a toxina de minhas lembranças transmutadas.
Saiu o sangue e saiu o fel, e por isso me sinto assim, diferente.
Mas ainda não saiu tudo, estou em processo, está saindo em forma de palavras.
E elas estão amarradas uma a uma, longa corrente encadeada, tecida e retorcida nas minhas memórias.

Meu peito.

É nele que sinto as palavras saindo.
Umas puxando as outras para que eu possa me sentir leve, livre, outra.
E mesmo que elas - ainda - não digam nada,  esclarecem muito de mim para mim.
Elas me desentopem.
Elas me desobstruem.
Elas me salvam.
Tenho que gastá-las muito.
Deixá-las sair para que eu possa chegar ao centro de mim, ao que de mim se mostrará primal.
Ainda vai levar um tempo.
E eu vou puxá-las todas com muita força,  até  que eu me sinta satisfeita e feliz,  porque se eu não me esvaziar de mim, eu não vou mais aguentar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Papel novo

Tenho abraçado  cada vez mais o teu travesseiro na cama, enquanto te espero chegar

Tenho tomado café da manhã sozinha, enquanto te espero acordar

Tenho ido cada vez mais à  praia aos domingos, enquanto espero  o sol se firmar

Tenho pensado em nós cada vez mais, enquanto  tenho tempo para imaginar

Tenho gostado de quem não me merece

Mas, ai,  como tenho me divertido!

Tenho reclamado de que tenho envelhecido

Mas é como tenho me sentido melhor

Tenho, tenho, tenho

Tenho tudo tenho nada

Mas quando tenho nada é que tenho tudo

Tenho um papel novo para começar

Nada de dizer que "eu não sei dizer"

Nada de dizer "então eu escuto"

Então eu falo mesmo. Já  foram muitos anos calando

Tenho mudado cada vez mais nestes anos todos, enquanto me espero chegar

E tenho gostado de mim

Quero abraçar cada vez mais o teu corpo na cama.

Deixa este travesseiro pra lá




Meu carinho, meu enorme carinho, vai para W.


Já gastei muitas canetas, cadernos e folhas.
Já escrevi no ar, na areia e na poeira ( aos seis anos de idade, quando quis fugir de casa e deixei um recado no criado-mudo ).
Já escrevi pensando, cantando, orando, mentalizando. 

Mas nunca me senti tão motivada quanto agora, incentivada por meu amigo W.

Sabe aquelas pessoas que a gente tem pouco contato, que é amigo do seu amigo e que, por acaso, gosta de você? Então, W. é assim. Nosso contato é muito pequeno, mais pela distância e pela falta de oportunidade que por falta de afinidade, imagino. 

W. é amigo e companheiro de minha amiga D. 

Acho que pelo fato de eu ter passado quase dois terços de minha vida compartilhados com D., W. tem um carinho por mim, deve ter, não é possível que meu nome não seja citado naquela casa pelo menos.... bem, deixemos isso de lado, o que importa é a qualidade. 

Enfim, dessa amizade ficou uma grande saudade! Sempre que vou para sua cidade, eu me empenho em vê-los. 

Num desses dias, W. me perguntou porque eu não escrevia... ou seja, porque não colocava em prática essas palavras soltas, voláteis. Por quê? Por quê? Por quê?

E eu não soube responder... me senti mole, amorfa. Mas também me senti desafiada. 

Demorou um mês para eu ensaiar este começo. E aqui estou.

No fundo, no fundo, não preciso de pretexto. O que me impulsiona pode estar em qualquer lugar, ao meu lado ou longe, de modo bem simples ou dolorido, bebendo ou não, acompanhada ou só.

Meu carinho vai para W., que me fez querer responder à sua pergunta. SEXTA-FEIRA, 1 DE OUTUBRO DE 2010.

Esse texto foi escrito há seis anos! Está muito perto de fazer seis anos! Nunca me senti tão feliz por estar errada e certa ao mesmo tempo. Errada porque aquele pouco contato, aquela intimidade frágil, aquele acaso não existe mais... certa porque aquele carinho só aumentou, e se transformou em convivência mútua, em cumplicidade, em uma afinidade sem tamanho.

Feliz em saber, mais uma vez, que posso contar com esse amigo, com esses dois amigos queridos, entre tantos que me dão mostras de carinho gigantescas todos os dias... e mais uma vez, o recomeço, mais uma vez o apoio, imensurável que W. pode, quer e sabe me oferecer...

Meu carinho, meu enorme carinho vai para W.


Para Wlad Pieroni, que deu vida e cor ao meu "fruto" por duas vezes.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Nasceu o Fruto da Pitangueira

O Fruto da Pitangueira nasceu das minhas mais profundas lembranças.

Eu morei na Rua Alfa, número 226-A, no bairro Moinho Velho, em São Paulo, durante dez anos. Posso afirmar, com certeza, que foi a pior casa em que já vivi. Muito antiga, tinha sido a primeira construção que meu avô fez para viver com a família, assim que vieram de Portugal, nos idos de 1946.

Uns quase trinta anos depois, minha mãe já adulta, casada e com filhas, precisou da casa para nela morar comigo e com meu pai. A casa havia sido dividida ao meio, literalmente, de modo que havia se tornado gêmea de uma outra igualzinha, porém espelhada. E isso fez com que a casa tivesse um estilo esdrúxulo, tipo corredor, explico: um quintal à frente, com alpendre na entrada pela sala, seguida por um quarto, seguida pela cozinha, com o banheiro ao fundo, tudo em linha reta, encadeado, e um grande corredor externo lateral. 

Para esse corredor, pendiam os galhos da Pitangueira da Dona Aurora, a vizinha de fundos, da outra rua, já que a casa era de esquina. E, debaixo desses galhos, passei dez anos de minha infância e adolescência, dos 6 aos 16 anos, saboreando "O Fruto da Pitangueira"...

Apesar de a casa ter sido horrível (e me lembro muito bem, porque antes dessa já havia mudado umas quantas vezes de casa, bairro e cidade e aos seis anos já tinha uma excelente memória, inclusive dos dois anos passados em Barretos, cidade de meu pai e dos De Santis da famíla), bem, apesar de adorar frisar que a casa era e foi realmente horrível, rsrsrsrsr, tinha lá uns encantos diferentes: ao final do corredor, na direção de quem iria para a rua, do lado direito se abria uma espécie de galpão, fechado com treliça de madeira pintada em tom de verde água que guardava...o que mesmo? Era um espaço cimentado, cimento queimado, piso muito liso, no qual eu brincava com todos os meus pertences e imaginação. E, anexo à casa, havia o quintal do meu bisavô, que morreu logo em seguida à nossa mudança, e passou a ser o quintal do meu avô. Esse espaço, sim, era um reino encantado para mim. Um espaço verde, de mato, onde ele cuidava de uns patos, galinhas, uns coelhos e uns curiosos pés de fumo que nem sei pra que serviam, se ninguém fumava naquela época. 

As crianças da família se divertiam com os coelhinhos, patinhos e pintinhos pequenos e lindos e, claro, arrancando folhas e flores para nossas brincadeiras, enquanto meu avô retirava ovos para as abomináveis gemadas que tinham poderes fortificantes. E esse foi o único encanto da casa: o seu externo.

À sombra da pitangueira, naquele corredor, durante milhares de vezes, eu e minha cachorrinha nos sentamos para brincar e conversar. Eu me lembro bem! E talvez, ou muito certamente, foi saboreando o fruto da pitangueira que adquiri o hábito de falar sozinha, cultivando as palavras e as ideias, visto que meus pais adultos não eram muito do tipo de brincar e dar vez e voz às crianças, além de não ter sido criada junto com a minha irmã, por outro esquisitíssimo costume da época, o de deixar os filhos primogênitos aos cuidados dos avós, quase como que a lhes ceder uma criança de companhia.

Não falo isso com mágoa e nem terei problemas com minha mãe, que já se acostumou com a ideia de ter sido constantemente questionada e bombardeada para que nos explicasse seus motivos. Ela sempre respondeu a mim e à minha irmã que eram costumes de uma outra época, pois como minha irmã havia nascido no inverno de São Paulo, realmente rigoroso naqueles tempos, quando minha mãe ia buscá-la na casa dos meus avós, eles diziam: "deixa a menina, que já está a dormir", e a menina ficava... fora isso, meu avô era louco com crianças, principalmente com a primeira neta. E a menina ficou para quase sempre.

Mas como estava contando inicialmente, debaixo do galho pendente daquela árvore é que nasceu a minha imaginação e é por isso que esta história tem este título, ou mote, não sei bem, que marcou meus bons e maus momentos ao longo de dez anos de minha jovem vida e, de certa forma O Fruto da Pitangueira, este texto e este blog, tem o tom destas memórias, que se tornaram fantasias e sonhos e me ajudaram a saborear o meu mundo de forma tão tropical e exótica, e permitiram que eu voasse para bem longe dali, anos depois, acumulando todos os tipos de sensações para que futuramente eu as pudesse transformar em palavras.

A pitanga, palavra que em Tupi antigo, redundantemente, significa fruto redondo e vermelho, é uma planta nativa da Mata Atlântica brasileira, rica em vitamina C e cálcio, exuberante no seu aroma e cor, e que atrai pássaros e insetos silvestres, além, é claro, de ter atraído para junto da Pitangueira da Dona Aurora aquela menina que até hoje sente o aroma  daquele fruto e hoje está aqui para escrever.

Eu, realmente, com todas as minhas forças de menina, odiava aquela casa, a vida naquela casa, "chorei muitas das minhas pitangas" naquela casa, mas também aprendi a amar as pitangas, contrariando o dito popular.

E o tempo passou, eu me mudei umas tantas outras vezes, de casas, bairros, cidades, e senti vontade de escrever. Simples assim. Como uma pitanga cheirosa e vistosa.

CARTA DE AMOR PARA LINIKER, por Cilene De Santis

Hoje começo novo ciclo e confesso novo vício. Doce e quente. Meu novo vício é Liniker. 

Preciso me apresentar para poder me explicar e ao mesmo tempo perguntar como pode isso acontecer? Sou apenas alguém comum, mas tenho sonhos e desejos e quando ouço a voz de Liniker, não sei se é sua voz, sua figura, o som do metal ou tudo junto. Uma paz enorme invade o meu coração e uma vontade de mostrar ao mundo que não sou um estereótipo. 

Eu aceitei o convite. Estou totalmente bagunçada. Estou falando de Zero, a música. De Zero, o meu ponto inicial. E vim chorando nos 900 m que separam o ponto de ônibus de minha casa, onde escrevo agora nesta escrivaninha idealizada para pensar e escrever meu novo futuro... 

Sim, estou bagunçada e com alguém em mente para bagunçar. E fiquei mordida! 

O que é esse menino! Que vontade de abraçá-lo! O que é a minha vida se não o mais normal de nós? Tão vasta e tão pequena e sou uma e sou muitas e mesmo assim, por vezes, me deixo abater por apenas uma versão de mim... 

Sim, estou completamente bagunçada e mordida! E é aqui que entra Liniker e os Caramelows, Liniker e o metal, Liniker e sua voz, Liniker e sua coragem simples, pura, genuína. 

A forma como sorri quando canta transmite a paz e o desejo que quero manter. Que quero mostrar quando chegar a hora. O seu prazer quando canta me dá segurança e diz que é assim que quero me sentir na vida. E não tenho mostrado isso. E tudo o que canta não é fração daquilo que quero escrever. 

Porém, o mais engraçado, é que cabe - tanto para ele como para mim - cabe tudo na malinha de mão do meu coração.

 Agora sei que estou pronta. Deixa eu bagunçar você?