RASCUNHO
Hoje parece um daqueles dias densos.
Mas não sei se é o clima, se eu mesma...
O ar está pesado, o dia nublado, minhas tarefas são pontuadas por cafés e pensamentos.
Eu crio - enquanto cozinho - Multitarefas: tudo o que não quero mais ser, mas faço tão bem.
Os sons da casa.
Os cheiros da casa.
A casa.
Algo úmido. Algo cinzento. Algo raro na cidade.
Eu estou de frente para o parque, com o Mestre Álvaro ao lado.
Posso ver algumas árvores, o campo de futebol e uma pequena elevação gramada, mas tudo está vazio e consigo ouvir o silêncio. Também escuto Marisa Monte, várias vezes. Não enjoo.
Os cheiros. As panelas fumegando na cozinha ao lado. "Quem me dera", Marisa me fala... "não sentir mais medo algum".
Pronto: começou a chover! Adeus natação de hoje... e comecei tão cedo para poder sair...
Às vezes penso que escrevo essas bobeiras à toa, que não têm nada de mais...
Às vezes chego a pensar também que não têm nada de menos - essas bobeiras - e eu, pelo menos, escrevo, tento tirá-las de dentro de mim. É muita coisa, são muitos pensamentos, sentimentos. É o peso do tempo, o peso da vida que escolhi e que agora, gradativamente, está ficando leve.
Tanto tempo depois. Leve. Leveza é o que buscava e não sabia.
Hoje: a densidade do ar, o branco do céu, a gravidade embutida no ar que se respira.
E por isso também que lembrei de Short Cuts, filme de 1993, traduzido para Cenas da Vida. Um mosaico, em que diversos personagens se cruzam. Nunca esqueci. Narrativas cruzadas de cenas tão corriqueiras de vidas comuns. A pobreza e a riqueza da vida.
Assim como a minha, comum. Quem me vê, não me vê. Não sabe nada sobre mim. Como estou "do outro lado" do qual me mostro.
Assim como a minha, comum. Quem me vê, não me vê. Não sabe nada sobre mim. Como estou "do outro lado" do qual me mostro.
E sigo.
E Marisa de novo me falando que "amar alguém só pode fazer bem". Será?
Enfim, voltando ao dia nublado, às lembranças nítidas de um tempo enevoado, à busca da leveza, à "insustentável leveza do ser", fechando para um plano super close de agora... chove, mas estou leve; chove, mas é bom; chove e me atrapalhou, mas me deu tempo de pensar e escrever.
O dia chove, mas estou leve, alegre, braços abertos rodopiando na chuva.... braços abertos correndo bem rápido... braços abertos, sentindo a água... braços abertos, absorvendo a vida...
Chove, e vivo.... chove, e abro espaço para o novo... chove, e existe prazer dentro de mim... chove...
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